No início dos anos 80, militares brasileiros monitoraram Essequibo e concluíram que EUA e Inglaterra apoiariam os guianenses contra os venezuelanos em caso de invasão.

Relatórios secretos mostram que o Exército monitorou no início da década de 80 a possibilidade de invasão da Guiana pelas Forças Armadas da Venezuela, o que poderá ser concretizado, quarenta anos depois, se o ditador venezuelano Nicolás Maduro levar adiante promessas nesse sentido. Os dois países fazem fronteira com o Brasil em Roraima, e os documentos registram que um possível conflito pode trazer consequências para o Brasil.

O Exército passou a acompanhar mais intensamente a situação na divisa entre a Venezuela e a Guiana em 1982, quando expirou o prazo de validade do chamado Protocolo Port of Spain, que tinha congelado por doze anos a questão fronteiriça entre os dois países na disputa pelo território de Essequibo.

Naquele ano, a Guiana iniciou um recrutamento para treinamento militar obrigatório, e a inteligência da Polícia Federal chegou a identificar um aumento do fluxo de jovens guianenses para o Brasil, “a fim de esquivarem-se do alistamento”.

Um dos relatórios, de 1982, detalhou a Operação Green Heart (Coração Verde), com a qual a Guiana colocou 3.000 militares no trecho de floresta da fronteira, na região de Essequibo, preparando-se para eventual invasão da Venezuela. “A tropa cobriu cerca de 300 quilômetros de marcha a pé, parte em terreno difícil e através da selva”, diz o documento. O documento  também informava que a Guiana tinha encomendado dois aviões da Embraer e 2 mil foguetes da Avibrás, empresas brasileiras.

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Relatório secreto do Exército brasileiro sobre possível invasão da Venezuela na Guiana.

O governo do então presidente da Guiana, Forbes Burnham chegou a lançar um bônus de guerra para financiar a resistência à possível invasão pela Venezuela, em 1982, conforme conta o relatório do Exército. “Cada bônus que você comprar será mais um prego no caixão do imperialismo e da agressão venezuelana”, dizia Burnham. “Não podemos aceitar a palavra de um povo que busca submeter nossos cidadãos da Região do Essequibo”.

Invasão seria desastrosa para a Venezuela
Os analistas do  Exército fazem uma avaliação de uma possível invasão. “A Venezuela, caso optasse pela solução da força, seria vista pela opinião pública internacional não como um David, mas sim como um gigante Golias. A arriscada iniciativa não deixaria a Guiana desprovida de aliados ativos”, diz o relatório, fazendo referência à Grã-Bretanha.

Em outro documento, também de 1982, o Exército relata comentários de oficiais venezuelanos sobre as consequências desastrosas de uma invasão à Guiana.

Afirmavam que “qualquer ação de força contra a Guiana seria altamente desvantajosa para o seu país, uma vez que teriam de medir forças, não somente contra a Guiana e a Inglaterra, mas, praticamente, contra OTAN, pois os Estados Unidos, naturalmente, apoiariam os ingleses, como ocorreu, recentemente, no conflito das Malvinas”, diz o relatório.

Em discurso da Cúpula do Mercosul, Lula afirmou que acompanha “com preocupação” a situação que se desenrola na Guiana, após a Venezuela declarar que vai anexar a região de Essequibo, e declarou que “o Mercosul não pode ficar alheio”.

Por Hugo Marques – VEJA

 

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